REFUGIADOS

Menina afegã - Sharbat Gula, 1984

A guerra impõe profundas cicatrizes, visíveis e invisíveis, ao ser humano. São dores, traumas e feridas que permanecem para sempre na mente e no corpo dos que sobrevivem á ela. Você pode até não enxergar, mas elas estarão lá, vivas e abertas dentro das pessoas machucadas pelos conflitos.

Aos sobreviventes restam apenas duas escolhas, enfrentar a guerra em meio aos escombros e toda barbaridade promovida pelo conflito armado, tendo de conviver diariamente com o medo, a miséria e a destruição, acordar com o barulho de misseis e aviões bombardeando tudo ao seu redor e torcer para não ser o alvo de algum deles, a segunda opção é fugir para qualquer lugar que a liberte daquele pesadelo, buscando um abrigo, na tentativa desesperada de salvar tudo o que lhe resta, que muitas das vezes é apenas sua própria vida.

Na inexistência de lazer e vida social durante a guerra, os momentos que precedem os conflitos, bombardeios e destruição se tornam apreensíveis, melancólicos e angustiantes, pois não se sabe o que pode acontecer no próximo e qualquer minuto a seguir, sempre esperando que o pior não aconteça consigo e com quem ou o que lhe restou nesse mundo de desolação.

Perder filhos, pais ou amigos, perder a casa ou trabalho e ate mesmo perder algum pedaço de si próprio, tudo isso faz diariamente milhares de pessoas e famílias deixarem para trás suas raízes, sua historia e recomeçar do zero em outro lugar, em busca de um novo sonho de viver e construir um futuro a partir do que restou.

Porem, o que agrava a situação dos milhares de refugiados é que cada vez mais eles não são aceitos por outros povos e governos que não se sentem responsáveis em ajuda-los, mesmo que eles sejam parte direta ou indiretamente do conflito. Em contrapartida o mundo ainda dispõe de governantes, pessoas e organizações humanitárias que tentam fazer o que podem para minimizar o sofrimento e a dor dessas pessoas.

Sharbat Gula é literalmente o perfeito retrato dessa situação, a menina afegã que com apenas 6 anos já havia se tornada órfã ao perder seus pais durante um bombardeio soviético no Afeganistão, aos 12 anos foi fotografada num campo de refugiados no Paquistão, em 1984 por Steve McCurry, um fotógrafo mundialmente reconhecido que talvez tenha ali produzido a sua verdadeira obra-prima, no ano seguinte ela se tornou mundialmente famosa, principalmente no ocidente, após ter sua foto veiculada na capa da revista National Geographic, até então anônima e reconhecida apenas como Afghan Girl (Menina afegã).

Steve McCurry tentou por vários anos localiza-la novamente na tentativa de desvendar a história de vida por trás daquela criança com um olhar tão intenso e vivido, porem devido às dificuldades de acesso ao país afegão e ao futuro incerto de um refugiado, sua identidade só foi revelada ao mundo em 2002, dezessete anos depois, logo após a queda do regime talibã, onde ela foi encontrada no seu país natal, pra onde havia retornado no ano de 1992.

Sharbat Gula venceu a guerra, casou e se tornou mãe, o que parece ser apenas cotidiano e banal na vida de qualquer pessoa, para uma refugiada órfã que teve sua vida interrompida, seus sonhos decepados e sua ligação familiar findada, e mesmo que seus olhos não reflitam mais aquela esperança que levemente refletiam no passado, que seu país não tenha ainda encerrado os conflitos e que as cicatrizes perdurem no coração e na memoria dela ate os dias de hoje, ela venceu essa guerra. E assim como ela, toda humanidade vencerá esse triste episodio um dia. Essa é a esperança que fica.


Sharbat Gula, 2002
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A inspiração para escrever sobre esse texto veio através da leitura do best-seller A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini.


Outros links:
https://www.nationalgeographicbrasil.com/sharbat-gula/2017/12/famosa-menina-afega-finalmente-consegue-um-lar-capa-historica-refugiado-afeganistao

http://virusdaarte.net/a-refugiada-afega-sharbat-gula/



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